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    Visões do ano em 2013


    Existem diversas maneiras de se ver o mundo. Isso é uma obviedade, mas daquelas ululantes, para lembrar Nelson Rodrigues. Sem querer, ou não, formatamos nosso olhar e, inevitavelmente, construímos e dissipamos acontecimentos ao nosso redor. O que contribui para essa “formatação” são nossos costumes, hábitos, rotinas, experiências, bagagem cultural. Assim, entendemos as coisas e construímos a História: sob nossa ótica.

    E como, afinal, vimos e interpretamos este 2013? Um ano assim, tão repleto de fatos inusitados e relevantes, marcará nossa geração, ou simplesmente será esquecido, daqui um tempo? Acho a segunda opção muito difícil.

    Pois um ano que inicia com a morte trágica de 242 jovens em uma casa noturna, todos acotovelados e pisoteados em meio a fumaça, na cidade de Santa Maria, será difícil de esquecer. Aliás, como seria bom se nunca tivéssemos amanhecido naquele 27 de janeiro. O pavor ainda segue. Não há condenados pela tragédia. Mesmo com a boate superlotada, sem alvará e com uma apresentação de um tosco show pirotécnico em um espaço ínfimo, a justiça ainda não encontrou os culpados. Triste, muito triste.


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    De março a julho, o povo tomou as ruas para protestar. A razão inicial eram as tarifas de transporte público, que haviam aumentado vinte centavos, em diversas capitais. Os governantes (fingiram que) entenderam a mensagem e atenderam a ordem: redução do preço das passagens. Como nunca havia acontecido na História recente. Mas o povo seguiu. Não era (só) pelos vinte centavos. Eram tantas causas e tantos grupos. E, quando os movimentos enfraqueceram, surgiram os violentos black blocks, com sua onda de destruição e vandalismo. Voltou, também, a truculência da polícia. Lembrou outros tempos. Lembrou uma guerra civil.

    E, afinal, o que você viu disso tudo? Como esses protestos ficarão para a sua História? Como um retorno da indignação e do sentido de fazer política, ou uma mera revolta confusa da classe média e dos jovens brasileiros (afetados pela economia, pela inflação), que saíram só um pouquinho do Facebook? Teremos, de fato, as respostas nas urnas, ano que vem. Veremos, realmente, se o gigante acordou ou já retornou ao seu berço esplêndido.

    Assim como “nunca antes na História deste país” havia se reduzido o valor das passagens, fazia tempo que um político não havia sido preso no exercício do mandato. Foi em 2013. Esse é outro fato que será difícil esquecer. Natan Donadon, deputado de Rondônia, foi parar no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Logo após, vieram (e foram para o mesmo lugar) os mensaleiros. Político corrupto preso: era algo que todos queriam ver. Agora, a esperança é de que não pare por aí. Sabemos que tem mais.

    Em 2013, um espião deu com a língua nos dentes, como dizem, e o mundo descobriu que Obama está de olho em tudo e todos. Não era só em Cuba, ou na Venezuela, ainda de Hugo Chávez (falecido em março, mas que continua a se “comunicar” com seu sucessor, conforme o próprio). Obama é o maior voyeur de que se tem notícia. Inclusive, tá de olho na Dilma. Digo, no Brasil... Dilma não gostou nada, mas depois corou com a informação de que o Brasil igualmente espiona países, os do Mercosul.

    A propósito de Mercosul, o Uruguai, do presidente boa-praça Pepe Mujica, decidiu falar sobre legalização do aborto e da maconha. Da Argentina, veio o novo Papa. Após a renúncia de Bento 16, o cardeal Bergoglio, de Buenos Aires, assumiu a Igreja, como Francisco. Jovens o receberam no Rio. Ares de novos tempos, mais tolerância e humildade aos cristãos. Por sinal, esses substantivos marcaram para sempre um dos maiores homens que já pisaram por aqui: Nelson Mandela. Infelizmente, faleceu em dezembro, neste fatídico e inesquecível 2013. Um homem que lutou contra a segregação racial, depois de ficar 27 anos preso, sem revanchismo e sem ódio, merece ficar para sempre em nós.

    Tudo isso aconteceu em 2013. Para você ver...

    Mas há outros fatos que você deve ter visto.

    Viu, por exemplo, o preço do tomate? Que disparate...

    E o referendo sobre a reforma política? Também não vi.

    Aprovação da nova lei das empregadas domésticas. Como dizem no Facebook: a classe média pira.

    Copa das Confederações. Não foi só o povo que pareceu ter acordado e saído para a rua. A seleção também! Mano Menezes, que perdeu a Copa América e as Olimpíadas, deu lugar ao “ultrapassado” (ah, os entendidos em futebol!) Felipão, e só isso bastou para todo mundo voltar a jogar. A Copa das Confederações foi nossa, neste ano. Agora, só queremos ver na Copa...

    Depois de Avenida Brasil, a Rede Globo conseguiu emplacar mais uma novela, Amor à Vida. Novela, não! O que emplacou mesmo foi a “bicha má”, o personagem Félix, de Mateus Solano.

    Invasão do Instituto Royal, em São Paulo, por ativistas. Nasceu e segue a polêmica em relação aos cães da raça beagle que servem como cobaias de medicamentos. Afinal, é possível fazer ciência sem animais como cobaias? É possível encontrar outra maneira de testar medicamentos? Só a Ciência dirá...

    Falando em polêmica... A classe dos (de alguns) músicos se reuniu pela segunda vez: a primeira foi na década de 1960 contra a guitarra elétrica (você vê...), neste ano foi contra as biografias não-autorizadas. O objetivo, segundo Roberto Carlos, Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, entre outros, é preservar a integridade, a moral e os bons costumes. Peraí, mas não é para exatamente isso que existe Justiça?! Essa, vou fazer de conta que não vi.


    lucas barrosoLucas Barroso

    Jornalista e escritor, autor de "Virose" (2013), "Um Silêncio Avassalador" (2016), "Um Gato Que Se Chamava Rex" (2018) e "O Tempo Já Não Importa" (2020).



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