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    A essência da arte


    Uma mulher que não foi amada. Uma mulher que trabalhou a vida toda de babá e empregada doméstica. Uma mulher de diversas famílias. Uma mulher de um metro e oitenta de altura que vivia em sótãos e porões, rodeada de jornais velhos. Uma mulher excêntrica e acumuladora de bugigangas. Uma mulher que registrava a alma dos outros. Uma mulher que vasculhava lugares esquisitos atrás de pessoas normais. Uma mulher que não via motivo em se expor. Uma fotógrafa. Acima de tudo. Essa foi Vivian Maier, americana que viveu 83 anos sem reconhecimento algum de sua arte. Suas fotografias urbanas só ganharam visibilidade após sua morte, em abril de 2009, pelas mãos de um jovem que comprou os negativos em um leilão de garagem, sem saber direito do que se tratavam. Atualmente, há exposições dela em diversos países.

    Vivian Maier foi um mistério. Ela se dizia francesa, mas, na verdade, nasceu em Nova York e forjava um sotaque, pois residiu um tempo na França, onde tem parentes até hoje. Passou pela vida de muitas pessoas, por trabalhar como babá e empregada doméstica. Entretanto, não contava a ninguém sua história. Isso tudo nos mostra o belo documentário “A fotografia oculta de Vivian Maier”, de 2013, dirigido por John Maloof e Charlie Siskel.

    Quando as perguntas pessoais surgiam, ela desconversava. No dia-a-dia, inventava nomes falsos a desconhecidos no mercado, na banca de jornal, nos passeios com as crianças. Dizia que se chamava “Senhora Smith”. Vivian, tão logo iniciava o trabalho em uma casa, pedia que seu quarto tivesse trancas reforçadas. Não gostava que ninguém invadisse seu espaço.


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    Além das já citadas bugigangas, rolos de filmes e jornais velhos, Vivian acumulava muito silêncio. Um silêncio de 150 mil fotos, feitas em uma Rolleiflex. Cenas cotidianas de Chicago, Nova York e Los Angeles, principalmente, dos anos 50 e 60. A maioria das imagens nem sequer havia sido revelada. Ela também viajou, por oito meses, com sua câmera para Tailândia, China, Egito, Itália e Brasil.

    Seu final foi trágico. Acabou sozinha, velha e louca – vizinhos relatam que comia restos do lixo, mesmo tendo o que comer – em um apartamento alugado por homens que foram cuidados por ela quando crianças.

    O que apaixona em Vivian é que ela foi artista mesmo sem “viver” de arte, mesmo sem ter compromissos com o mercado artístico. Vivian não concebia Arte como uma profissão, como algo que se possa preencher ou destacar em uma carteira de trabalho. Sua profissão era babá e empregada doméstica. Sua sina, sua missão, era ser fotógrafa. Vivian tinha a essência do fazer dos grandes artistas: o compromisso com a sua verdade.

    Por que nunca mostrou seu trabalho artístico? Por que não buscou o reconhecimento merecido? Por que deixou, de forma organizada, todos os rolos de filmes da sua máquina para a posteridade? São perguntas que ecoam tão logo se conhece a história de Vivian Maier. Mas não há respostas para nenhuma delas.

    @lsbarroso


    lucas barrosoLucas Barroso

    Jornalista e escritor, autor de "Virose" (2013), "Um Silêncio Avassalador" (2016), "Um Gato Que Se Chamava Rex" (2018) e "O Tempo Já Não Importa" (2020).



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