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    Um ano nada original...


     ...feito esse título. 2015 foi, mesmo, o ano menos original dos últimos tempos. Não há quase nada de novo no front. Voltou-se a falar sobre impeachment de um presidente. Ou seria golpe? Depende de como se vê as coisas, não é? O culpado de tudo, dizem, é o Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. Ele manobrou aqui, passou por cima ali, mentiu acolá, e permaneceu onde está. O dinheiro que ele tem na Suíça – e está sendo investigado – é produto da venda de carne enlatada. Claro, vocês pensavam o quê?!

    Agora, é a Dilma que está na berlinda. Não por seus discursos sem noção, que seguiram à toda neste ano – “eu tô saudando a mandioca”, “Não vamos colocar uma meta, mas, quando atingirmos a meta, dobramos a meta”, “é preciso uma tecnologia para estocar vento” – e, sim, por seu péssimo governo, com alianças políticas e medidas desastrosas. E mais uma vez um vice do PMDB tem chances de assumir o país. Michel Temer, um poeta ruim e amargurado, escreveu uma longa carta de desabafo a sua chefe. Cheia de dores, rimas fáceis e com termos em latim. Quer coisa menos original que uma carta? Que ano estranho!

    Voltou (voltou?!) a crise econômica: altos índices de desemprego e inflação, governos estaduais pagando atrasado salários de seus servidores, dólar disparando. Você já viveu isso, não?


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    A nossa novela política favorita, conhecida como Operação Lava-Jato, já passou de vinte capítulos, digo, fases. Delcídio Amaral, senador de Mato Grosso do Sul, líder do PT no Senado e que tinha pinta de mocinho, foi preso por dificultar as investigações da Polícia Federal. Virou bandido. Já o tal do mensalão mineiro (ou tucano, como dizem) não tem fim... Nem começo! É tipo o filme “Chatô”, de Guilherme Fontes. Está há anos para ser lançado e... Péra, “Chatô” foi para as telonas neste ano! E é um bom filme. Quem diria!

    Mas, no cinema, o sucesso do momento é “Star Wars”. Na televisão, “Escolinha do Professor Raimundo”. No futebol, o Barcelona dá aula. Tem algo errado com este ano... A sensação é de que estamos nas décadas de 80 ou 90. É só a pochete voltar a virar moda! Daí, não faltará mais nada. (Falando em moda, será que 2015 ficará marcado pelo surgimento do pau-de-selfie e dos livros de colorir para adultos? Melhor deixar pra lá...). Para aumentar a sensação de “anos 90”, lembram quando “Pantanal”, novela da então TV Manchete, bateu em audiência a Globo em horário nobre? Pois este ano tivemos mais uma reprise dos “bons tempos”: “Os Dez Mandamentos”, folhetim religioso da Record, colocou o Jornal Nacional em segundo lugar no Ibope.

    Das telas – não só da tv, mas dos tablets, smartphones, etc – surgiu uma polêmica ultrapassada. Mais um beijo gay virou motivo de debates acalorados no Brasil – ainda estamos nessa? Agora, não em uma novela e, sim, em um comercial de perfume do O Boticário. Perdemos um tempão debatendo as orientações sexuais e formas de amor. Porém, isso não acontece só aqui. Os EUA demoraram um bocado, mas, neste ano, liberaram o casamento de pessoas do mesmo sexo. “O amor venceu”, disse Obama, em seu twitter.

    Entretanto, nem sempre temos finais felizes. Continuamos racistas por aqui. Não só no anonimato. A apresentadora da previsão do tempo do Jornal Nacional, Maju Coutinho, e as atrizes Thaís Araújo e Sharon Menezes foram vítimas de preconceito. O ódio étnico foi disseminado onde? Você sabe: na Internet. Ainda uma terra sem lei para alguns.

    Seguindo no mundo “virtual”, podemos dizer que não vivemos só de coisas que já vimos. Em 2015, tivemos novidades. Pelo menos para nós, brasileiros. Serviços via aplicativos que já são sucesso mundo afora, como Uber, de transporte de passageiros por veículos privados, e Netflix, de televisão via internet, chegaram com força e conquistaram milhares de consumidores, com a promessa de modernidade e tecnologia. Agradaram a maioria, porém alguns setores do governo e da iniciativa privada não entenderam o novo. Querem taxar os serviços, afinal, aqui todo mundo paga imposto. As empresas estrangeiras não aceitaram essa postura e lutam na Justiça. Polêmicas e longos processos à vista! Um deles, inclusive, cancelou o funcionamento do aplicativo de bate-papo WhatsApp por 12 horas, em dezembro. O motivo alegado foi que a empresa – que é de Mark Zuckerberg, dono do Facebook – se negou a fornecer à polícia brasileira dados de usuários envolvidos em crimes.

    Por falar em comunicação, ou falta dela, tivemos a revolta dos estudantes em São Paulo, no final do ano. O governo propôs uma alteração no ensino público. Os alunos não concordaram com a medida e ocuparam as escolas para si. Depois de muito bate-boca, o governo cedeu aos estudantes. Fora a área do ensino, os protestos não pararam. As pessoas continuam nas ruas – ou nas varandas, fazendo “panelaços”. Muitas pautas, conflitos, desejos. Enfim, a Democracia que tanto pedimos. Meio enviesada, é verdade, ainda sem o diálogo que esperamos, mas Democracia.

    No meio disso tudo, ainda tem gente parada e perdida no tempo, querendo uma tal de “intervenção militar”. Algo impensável em um ambiente que não seja de... Democracia! Afinal, onde mais os que são contra a liberdade teriam espaço para falar? A justificativa é a falta de segurança que vivemos, que persiste com números alarmantes, comparados às piores guerras civis mundo afora. O que a insegurança não faz... Muitos preferem viver sob a sombra do exército, com a imprensa calada e outros direitos cancelados, a viver como vivemos: com medo. Taí, um bom tema para se preocupar de verdade em 2016: segurança pública.

    O que nos preocupou mesmo foi a cidade de Mariana, em Minas Gerais. As ruas, as casas e a vida de todos por lá foram afetadas para sempre. A maior tragédia ambiental da história brasileira – e da mineração mundial – ocorreu após uma barragem de uma mineradora da Samarco, empresa que faz parte da companhia Vale do Rio Doce, ceder. A lama tóxica se arrastou por quilômetros, alcançou o mar, deixando um rastro de destruição. Difícil mensurar os danos. Diversas cidades foram afetadas e 17 pessoas morreram.

    “Pra variar, estamos em guerra”, como diz a canção de Rita Lee. Sempre atual, pois todo ano é a mesma coisa, infelizmente. O terrorismo segue assolando o mundo. Os extremistas do Boko Haram apavoram civis na Nigéria, e em outros países africanos, com centenas de mortos. E o Estado Islâmico, com base na Síria, mantém sua “guerra santa”. Promoveu dois atentados em Paris. Um, em janeiro, na sede do jornal Charlie Hebdo, matando 12 pessoas. Outro, em novembro, com 130 mortes, em diversos locais da cidade do “pecado”, como os extremistas chamaram a capital francesa. Tanto na África, quanto na Europa, houve respostas violentas para os ataques. Não há esperança de que a guerra termine tão cedo.

    Uma das consequências da barbárie são os refugiados. Milhares de pessoas buscam evadir as fronteiras dessas regiões em conflito, principalmente do Oriente Médio. É o maior fluxo desde a Segunda Guerra Mundial. O principal destino é a Europa. A imagem que ficará para sempre é do menininho sírio, de três anos, encontrado morto em uma praia da Turquia. De sua família, que fugia do terror, também morreram sua mãe e seu irmão, durante a rota da Turquia para o Canadá. Devastador!

    Nem só de notícias ruins vivemos. No esporte, também nos repetimos. Mas foi ótimo! Foi um bicampeonato. Depois do desastre da Copa do Mundo de futebol, viramos definitivamente o país do surfe. Neste ano, Adriano de Souza, o Mineirinho (que, na verdade, nasceu em São Paulo) foi campeão mundial. Ano passado, o título foi de Gabriel Medina.

    Já que foi citado o futebol... Não podemos esquecer os cartolas da Fifa, presos neste ano. Até o momento, são oito dirigentes incriminados por corrupção – entre eles, o presidente da CBF, José Maria Marin. Um gol histórico das polícias da Suíça e Estados Unidos!

    Nossa justiça também trabalhou bem. Em junho, o Supremo Tribunal Federal encerrou a discussão e afastou a possibilidade de autorização prévia para publicação de biografias. Roberto Carlos, Chico Buarque, Gilberto Gil e outros artistas do Procure Saber, grupo que exigia a autorização prévia, foram derrotados. Uma decisão pela liberdade de expressão, certamente.

    No mundo das artes, vimos o magnífico seriado “Mad Men” acabar depois de oito temporadas – e entrar para a história como um dos maiores do gênero –, a cinquentenária Rede Globo investir pesado em séries adultas, a revista Playboy afirmar que não publicará mais fotos de mulheres nuas. Vimos um novo museu – o do Amanhã, no Rio de Janeiro – ser inaugurado, outros serem fechados e o da Língua Portuguesa, de SP, pegar fogo, em dezembro.

    Lamentamos as ausências do escritor uruguaio Eduardo Galeano; das atrizes Marília Pêra e Betty Lago; dos músicos B.B. King, Inezita Barroso, Júpiter Maçã e Fernando Brant; da artista visual Tomie Ohtake; e dos multiartistas Miele e Antônio Abujamra.

    Esse último encerrava seu programa de entrevistas, “Provocações”, na TV Cultura, com a fatídica questão: “O que é a vida?”.

    Jamais saberemos, mas vamos seguir, que 2016 vem aí.

    @lsbarroso


    lucas barrosoLucas Barroso

    Jornalista e escritor, autor de "Virose" (2013), "Um Silêncio Avassalador" (2016), "Um Gato Que Se Chamava Rex" (2018) e "O Tempo Já Não Importa" (2020).



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