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    Resposta aos Tempos


    Ofereço a seguir explicações – no plural, pois sabem vocês que só pouquíssimas coisas da vida têm uma explicação única e definitiva – para o fato de as harmonias, melodias e letras simplórias de axé, breganejo, funk carioca e pop pasteurizado terem dominado as paradas musicais brasileiras nas últimas décadas. Sabendo que escrevo sobre artes e ideias, amigos e leitores já me perguntaram muito, e a quem perguntar a partir de agora vou mostrar esta página.

    1) Explicação histórico-cultural: consolidação, no senso comum, de noções do tipo “O importante não é pensar, é sentir”, “Curta o momento”, “Fique na sua”, etc., um rescaldo parco, ralo, do fenômeno da contracultura dos anos 1960/70, cujos adeptos achavam que o estudo da tradição e o refinamento estético eram “caretice” de “gente velha”. Daí vem o desprezo da reflexão em favor da sensação, o “álibi da preguiça”, como definiu Francis. Cultura, hoje, para a maior parte das pessoas, significa apenas lazer, diversão. O pop, o entretenimento banal, venceu. Só uma minoria se interessa por alta cultura e por discutir arte (o que não é exclusividade do século 21, claro). O culto às celebridades é a marca desta época, e os cantores e cantoras de maior exposição no Brasil nada mais fazem do que entrar nesse ambiente, emulando os “ídolos” internacionais de maior público.

    2) Explicação mercadológica: mudou o consumo. A famosa “ascensão da classe C” fez a música ouvida nas periferias ir para o centro das atenções e conquistar também gradações sociais mais altas, que já não tinham gostos culturais lá muito sofisticados (disse não lembro quem: a única diferença entre a elite e as camadas populares, no Brasil, é a quantidade de dinheiro na conta). Além disso, hoje ouve-se música principalmente em plataformas digitais como Spotify e Deezer, as quais, muito acessíveis e práticas, favorecem a oferta desse tipo de canção de consumo rápido.


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    3) Explicação “comportamental”: breganejo, funk e axé são música “de balada”, do tipo que, 20 anos atrás, bandas de pop rock como Skank, Jota Quest e Capital Inicial faziam. Música que funciona como meio, como catarse, não como fim. Com letras sobre ostentação e “pegação”, liga-se a dois “valores” muito fortes para boa parte dos jovens contemporâneos.

    4) Explicação econômica: foram um achado para as hoje depauperadas gravadoras, por terem baixo custo de produção e alto retorno financeiro. Os grandes nomes da MPB, por exemplo, têm público de nicho e só gravam com arranjadores e músicos de preferência e confiança, o que encarece a feitura de seus discos, lançados cada vez mais por selos médios e pequenos. As maiores gravadoras só lhes cedem espaço no estúdio quando, justamente, os rentáveis sertanejos e funkeiros não o estão ocupando.


    lucas colombo assinaturaLucas Colombo

    Jornalista, professor, colaborador de revistas e cadernos de cultura, editor do Mínimo Múltiplo, organizador do livro "Os Melhores Textos do Mínimo Múltiplo" (Bartlebee, 2014).


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