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    Os (meus) Eleitos


    Se é vício profissional (jornalista adora listas) ou não, pouco importa agora. Apenas resolvi relacionar aqui os meus cinco – na verdade, seis; precisava entrar mais um – filmes preferidos dos '00s, como contribuição aos balanços da década que, presumivelmente, neste 2010, têm sido feitos ali e acolá. Mas atenção, chatos: não é uma lista dos “melhores”, e sim dos títulos que mais apreciei, que mais me deram prazer, que geraram reflexões e permaneceram por muito tempo em minha mente depois que os créditos subiram – e provaram, com tudo isso, que, ao contrário do que alguns pensam, há vigor em certos aspectos da vida cultural contemporânea. Em ordem cronológica:

    1. “Fale com Ela”, de Pedro Almodóvar (2002): sensível painel de nuanças femininas, oferecido através do contraste entre uma bailarina e uma toureira. Um Almodóvar maduro, comedido no uso de cores fortes e delicado com a trilha sonora (Tom Jobime Caetano Veloso acompanham belas cenas).

    2. “Adeus, Lênin!”, de Wolfgang Becker (2003): um rapaz faz de tudo para esconder da mãe, comunista ferrenha e recém saída de um coma, que o muro de Berlim caiu e que a Alemanha é uma só, capitalista. Quer argumento mais original (e com mais potencial irônico) do que esse?


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    3. “Sobre Meninos e Lobos”, de Clint Eastwood (2003): numa triste e bela fotografia em azul-grafite, a câmera sobrevoa um rio. Ao saber que a filha morreu, Sean Penn dá um grito lancinante. Numa rica trama, a angústia, os medos, as culpas que uma fatalidade desperta em três amigos de infância. No final, o peso da precipitação e a devastação de quem se sente obrigado a matar.

    4. “As Invasões Bárbaras”, de Denys Arcand (2004): pensamentos clichês e inverossimilhanças à parte, uma emocionante e contundente crítica aos “ismos” que tanto horror trouxeram à humanidade no século 20 – e aos quais hoje tantos ainda, romanticamente, se apegam. O que importa nessa vida mesmo são o trabalho e os amigos.

    5. “Os Sonhadores”, de Bernardo Bertolucci (2004): um balanço inteligente (até que enfim!...) do que foi a contracultura. E eu nunca mais fui o mesmo depois que vi a Eva Green nua e cantarolando “My Funny Valentine” para o namoradinho na cama.

    6. “Caché”, de Michael Haneke (2006): personagem que tenta lidar com um sentimento de culpa, história cheia de ambiguidades, subentendidos e tensões, um roteiro engenhoso e todo o poder de sugestão que advém de um final em aberto.

    Trilhas engraçadas

    Caíram-me em mãos dois livros de Paulo Coelho, “Brida” (Rocco, 2001) e “Palavras Essenciais” (Vergara & Riba, 2001), este uma reunião de ‘pensamentos’ do mago, extraídos de suas ‘obras’. Eu só precisei ler o livro mais celebrado de Coelho, “O Alquimista”, muitos anos atrás, para constatar que ele é um mau escritor. Seriam esses dois também aglomerados de lugares-comuns e ideias rasas, veiculados por meio de uma prosa pobre? Não resisti à curiosidade e me pus a folheá-los, aleatoriamente. Tive que anotar algumas passagens realmente impagáveis. Pág.17, primeiro parágrafo de “Brida”: “– Quero aprender magia, disse a moça.” A narrativa começa assim, do jeito mais simples possível, com uma personagem falando. Senti saudade dos “começos inesquecíveis” (como diria o Sérgio) de “Cem Anos de Solidão”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “O Estrangeiro” e pensei que um livro que inicia desse modo não pode mesmo ser bom. Mas fui adiante. Pág.30: “Gostaria que (sua avó) estivesse por perto naquele momento; imediatamente sentiu sua presença amiga.” Que rápido! Pág.33: “Cada dia do homem é uma noite escura. Ninguém sabe o que vai acontecer no próximo minuto, e mesmo assim as pessoas andam para a frente.” Original, hein? Pág.157: “Passaram por alguns cordeiros, que deixavam, com seus pés, uma trilha engraçada na neve.” O que vem a ser uma “trilha engraçada”? E-mails ao site. Pág.138: “Quando se apaixonava, era capaz de aprender tudo, e conhecer coisas que nem ousava pensar, porque o amor era a chave para a compreensão de todos os mistérios.” Esta humilhou Camões. Pág.202: “A história de sua vida passou numa fração de segundo.” Hum. E na última página: “(...) meninas que chegam um dia governadas pela mão de Deus, sem saber que estão ali para fazer com que se cumpra o destino.” Ah, o destino... Mas há ainda as “Palavras Essenciais”. Pág.12, excerto de “O Alquimista”: “Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize seu desejo.” Coelho antecipou “O Segredo”? Pág.17, também de “O Alquimista”: “Escute seu coração. Ele conhece todas as coisas.” Ah, tá. Pág.58, excerto de “Brida”: “Só entendemos a vida e o Universo quando não procuramos explicações: aí tudo fica claro.” ???. Pág.73, retirado de “O Monte Cinco”: “Um homem precisa passar por diversas etapas antes de poder cumprir seu destino.” Pois é.

    Essas passagens todas me lembraram aquelas mensagens de autoajuda em PowerPoint que insistentemente alguém me manda por e-mail (e que insistentemente deleto). Apego excessivo a chavões, carência de ideias e pobreza linguística são problemas sérios em literatura, e Coelho sofre dos três. Para os “politicamente corretos”, criticá-lo é “falta de respeito”, pois “muita gente gosta” e “ele faz sucesso no mundo inteiro”. Mas tomá-lo para análise é uma forma de respeito. E depois de qualquer análise criteriosa é impossível não dizer: Coelho escreve mal. E como.

    Décadas atrás, autores como o brasileiro José Mauro de Vasconcellos, o americano Sidney Sheldon e o australiano Morris West também venderam montes de livros, e hoje ninguém mais os lê ou discute. É óbvio, mas muitos ainda não se dão conta: ser best-seller não significa, automaticamente, ter validade literária. Coelho, aliás, já é menos lido atualmente. Concordo mais uma vez com Daniel Piza: não existe crítica mais implacável que a da posteridade.

    Quatro Perguntas

    Falando em Daniel Piza (este, sim, um cara que combate os lugares-comuns), vocês não podem deixar de ler, na seção Quatro Perguntas, do blog, a entrevista que ele concedeu a mim, na esteira do recente lançamento de “Amazônia de Euclides”, seu novo livro. Ano passado, no centenário da morte de Euclides da Cunha, o jornalista e escritor, colunista do Estadão, refez para o jornal a viagem que o autor de “Os Sertões” empreendeu pelo rio Purus, no Acre, em 1905, e comparou as duas realidades, a daquele início de século 20 e a deste início de 21. O livro traz a reportagem inteira. Além de “Amazônia de Euclides”, Piza fala, na entrevista, também de jornalismo literário, da obra euclidiana e dos problemas brasileiros que viu presentes na região amazônica.

    Pátria Amada

    José Serra, o candidato da oposição que não faz oposição, querendo transmitir imagem de leveza e bom humor e declarando que “Lula está acima do bem e do mal”. Dilma Rousseff, a candidata inventada pelo presidente, fazendo trapalhada atrás de trapalhada e se segurando apenas no discurso do continuísmo. Marina Silva não demonstrando a quê veio e aparentando se contentar com o papel de coadjuvante. Se o período “oficial” para campanha e debates nem começou ainda, o que esperar a partir de julho?

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