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    Pour penser


    Filmes franceses são, na maioria das vezes, sinônimo de “cinema-cabeça”. E “cinema-cabeça”, para muitos, é igual a chatice. “Caché” (“oculto”, em francês), de Michael Haneke, é um exemplar dessa categoria. Reúne várias características de um “filme-cabeça”: planos longos, narrativa lenta, ausência de trilha sonora, exploração psicológica dos personagens. Tais elementos já serviriam para espantar muitos espectadores, mas, para pânico geral, em “Caché” há um agravante: o filme não tem final. Isso mesmo. “Caché” simplesmente acaba, de repente. Quando o espectador imagina que está a um passo de descobrir o autor das fitas de vídeo e dos desenhos que atemorizam o personagem Georges (Daniel Auteuil), sobem os créditos do filme. Poucos, contudo, compreendem iniciativas como essa. O público acostumado ao ritmo rápido e à narrativa tradicional – ou seja, com início, meio e fim bem definidos – dos blockbusters americanos e das novelas da TV sente-se, é claro, extremamente incomodado ao ver um filme assim.

    Um dos melhores filmes dos últimos anos, “Caché” tem gerado polêmica desde o lançamento, em 2005. Em sites especializados, leitores escrevem impropérios contra o longa. No período em que ele esteve nos cinemas, pessoas saíam das salas de projeção antes de o filme terminar (ou melhor, não terminar). Parece que o Prêmio Ecumênico do Júri, no Festival de Cannes, e todos os elogios da crítica não foram suficientes para conquistar o grande público. Mas tudo bem. O público que “Caché” realmente conquista é aquele bem informado sobre cinema.

    Além de contar com as peculiaridades de um “filme-cabeça”, “Caché” ainda chama atenção pela fotografia, pelo caráter ambíguo dos personagens e pelo roteiro engenhoso – por vezes, pensa-se que a imagem na tela é do “filme” mesmo, quando, na verdade, é do cinegrafista misterioso da história. A produção também apresenta um forte componente político, ao enfocar o preconceito sofrido pelos argelinos que vivem na França. E ainda tem a atriz Juliette Binoche, provando que a mistura de beleza com talento é explosiva.


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    Se o espectador realmente quiser vislumbrar um “final” para a história e descobrir quem é o autor das fitas de vídeo e dos desenhos, convém prestar bastante atenção à última cena, o plano geral da saída da escola. Ali pode estar a chave do mistério. Pode, é bom frisar. O que se vê nessa cena é apenas uma das muitas possibilidades de entendimento, já que a idéia do diretor foi deixar o final em aberto. Haneke apenas insinua uma resolução para o mistério que sustenta a trama, deixando que o espectador entenda a história do seu jeito. E isso é ótimo. Quando um artista descobre o poder da insinuação, a arte sempre ganha. “Caché” é “cinema-cabeça”, sim. Vai encarar? O filme está na programação do Telecine Cult.

    Classic Movies

    Semana passada, completaram-se 25 anos da morte do diretor Luis Buñuel. Para lembrá-lo, publiquei no blog resenha de “Um Cão Andaluz”, um de seus filmes mais célebres. Confira lá, na seção Classic Movies.

    Rapidinhas

    - Gilberto Gil, como Ministro da Cultura, foi um excelente compositor. Quando o convidou a integrar o governo, Lula disse que gostaria de “dar mais visibilidade” à pasta. Se o objetivo maior era esse, ok: no período, Gil não deixou de fazer shows e cantou, inclusive, em eventos oficiais. Conseguiu a tal da visibilidade e um leve aumento na verba do ministério, mas derrapou em propostas como a da Ancinav (aquela que pedia “contrapartida social” nos projetos avaliados, lembram?), e as leis de incentivo à cultura seguem com distorções e problemas grandes a serem resolvidos (Cirque du Soleil precisa de ajuda pública???). Foi muito espetáculo e pouco conteúdo.

    - Pesquisa da FGV mostrou que a classe média tornou-se maioria no Brasil (51,89% da população), e já veio aquele pessoal de sempre dizendo que isso é obra do Bolsa-Família. Sorry, mas não é. É obra da expansão de empregos com carteira assinada. E é preciso prestar atenção a outro ponto da mesma pesquisa: o que falta no Brasil, hoje, não é mais exatamente emprego, e sim mão-de-obra qualificada. Educação, educação, educação. Repitamos, para o pessoal lá de Brasília ouvir.

    - Sindicância aberta pela Casa Civil para investigar o vazamento do dossiê com gastos da gestão FHC concluiu que não houve crime no caso. A ‘investigação’ não identificou o responsável pela elaboração do dossiê, nem quem mandou fazê-lo. Somente recomendou uma advertência ao ex-funcionário José Aparecido Pires, que vazou o arquivo a um assessor de um senador do PSDB. Mas peraí: a versão do governo não foi a de que se tratava apenas de um banco de dados, com informações não-sigilosas? Então por que advertir o funcionário que o vazou, se ele não fez nada de ilícito? Não entendi.

    - A disputa pela prefeitura de Porto Alegre é uma das mais soporíferas dos últimos tempos.

    - Ainda vou escrever uma tese sobre o quão grande é a estupidez humana. O que concluir depois da leitura do aviso colado nos elevadores brasileiros? “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar” (?!). E-mails ao site.

    - Não perca mais tempo aqui no MM: vá ler a coluna de Millôr Fernandes na Veja desta semana. “Elogio das Competências Restantes” é a melhor crítica de TV que eu li em anos.


    lucas colombo assinaturaLucas Colombo

    Jornalista, professor, colaborador de revistas e cadernos de cultura, editor do Mínimo Múltiplo, organizador do livro "Os Melhores Textos do Mínimo Múltiplo" (Bartlebee, 2014).


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