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    Ninguém deve ser uma ilha


    Há um espírito de manada, de conexões e redes, pautando o modo de ver o mundo. As coisas que nos cercam devem ser observadas sob certos aspectos, por teses pré-determinadas. Algo como: “se você não sabe, jogue no Google e ele lhe dará a resposta” ou “vou atrás do que disse Fulano sobre esse assunto para ter uma opinião formada”. Como se houvesse apenas uma resposta pela qual optar.

    É um sentimento comum, cosmopolita. Grandes cidades, pessoas conectadas, próximas (real ou virtualmente), vivenciando o caos, unidas por um ideal. Esse, em muitos casos, superado ou que não representa nada de novo.

    Vivemos um período de embrutecimento dos debates. Parece ser uma marca de nosso tempo. O maniqueísmo a que estamos expostos é uma chaga antiga e que, mesmo na diversidade deste “novo milênio”, parece ser a única saída para se ter razão. O próprio conceito de “ter razão” ainda não ter sido superado é algo assustador. Por que é relevante ter razão, “vencer” uma discussão?


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    As visões políticas de esquerda e direita são apenas dois exemplos claros que nos rodeiam. Não há como evitá-los. Qualquer tentativa de junção ou afastamento dessas correntes mesquinhas significa fuga da realidade. Afinal, é inconcebível que algo convirja de lados opostos. Buscar aproximar esses paralelos resulta em uma pretensa neutralidade, imparcialidade ou isenção. Neste contexto de guerrilha que vivemos, de luta pela verdade, acaba se tornando uma péssima saída.

    Seria como, retornando ao conceito de cidade, isolar-se no interior, onde só existe mato, em uma casa sem eletricidade e saneamento básico. À noite, nosso personagem hipotético deve acender uma fogueira com pedras e uivar para a lua.

    O cenário é de brutalidade, e não estar em nenhum lado desse “bom combate” significa ser cúmplice do lado oposto. Como no clichê “quem cala consente”, ou no volta e meia lembrado “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Não há saída. Você terá que optar por uma das portas disponíveis. Ao abri-la, a impressão é de que tudo já está escrito e catalogado. Mesmo assim, você deve seguir. Escolha uma ideologia pronta para cada fenômeno que surgir. As cartilhas e lugares-comuns se tornarão mantras repetidos à exaustão. Pronto. Você é mais um na multidão. Do outro lado da rua existe a outra.

    Quem adere a esses movimentos, além de obter um sentido para a vida, percebe o quanto essa vida é simples e repleta de significados “superiores”. Aliás, aí está um termo comumente utilizado por quem tem essa fé cega: simples. Há imigrantes ilegais? Simples. Construa-se um muro na fronteira. Não há mais segurança? Simples. Basta armar a população ou retomar a presença do Exército nas ruas. Seu partido sempre se disse “ético”, mas foi flagrado em operações criminosas? Simples. Diga que é tudo invenção da mídia.

    Mesmo diante de um vasto mundo, repleto de possibilidades, nos sobram poucas alternativas. Temos as soluções fáceis e os discursos prontos à disposição para estarmos inseridos num contexto, para existirmos. Cabe a nós apenas compartilhar, curtir, registrar, pois ninguém quer ser só, pois ninguém deve ser uma ilha.

    @lsbarroso


    lucas barrosoLucas Barroso

    Jornalista e escritor, autor de "Virose" (2013), "Um Silêncio Avassalador" (2016), "Um Gato Que Se Chamava Rex" (2018) e "O Tempo Já Não Importa" (2020).



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